Pirei no Conto

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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Amor nos Tempos do Iê-iê-iê

                                                       "Este conto de hoje tá afiadinho..."




Amor nos Tempos do Iê-iê-iê 



             Sebastiana morava com a mãe viúva na Vila do IAPI, no Núcleo Bandeirante. Haviam migrado há poucos anos da Paraíba, logo depois da inauguração da nova capital.

             A garota não tinha muita coisa pra fazer na vila. A não ser dançar nos bailinhos ao ritmo da Jovem Guarda, quando ia com a melhor amiga, a Maria do Socorro.

             Lá ela suspirava com o Claudinho, o broto que morava na rua de cima. Ele tocava Elvis Presley no violão, e usava uma calça apertada e um topete com brilhantina, para ficar parecido com seu ídolo.

             Mas o Claudinho não dava a menor bola para a Sebastiana.

             A outra distração das duas amigas era ouvir o programa jovem da Rádio Nacional. Mandavam cartas para o seu ídolo, o locutor Jorge Bandolim. Maria do Socorro gostava de pedir música do Roberto Carlos. E assinava: “Abraços, Mary of Help”.

              Já Sebastiana era mais criativa. E era fã da Rita Pavone. E por isso, Sebastiana Ferreira nas cartas virava... Francesca Pasquali.

             Um dia chegou na casa de Sebastiana uma carta da Rádio Nacional. Chamava –a para conhecer a rádio por dentro!  Quer dizer, ela não... a Francesca.

             E de noite, ela sonhou com o seu ídolo da rádio.

             Nele, ela conhecia o dono daquela voz grave, tão charmosa... E via um rapaz com vinte anos, um topete escuro, os olhos amendoados... Que a pegava nos braços e...

            Mas a mãe de Sebastiana a acordou bem nessa hora!

            - Vamos, filha! Tá na hora de ir para a escola! À tarde eu levo você na rádio!

Mas o que Sebastiana não sabia era que o tal Jorge Bandolim também andava suspirando pela sua Francesca.

           Quando via aquela carta assinada pela Mary of Help, dava risada, era óbvio que era uma Maria do Socorro quem escrevia. Mas Francesca... A carta vinha lá da Vila do IAPI, mas quem sabe não tinha mesmo uma italiana daquelas por ali?

            Imaginava uma Sophia Loren, uma Gina Lolobrigida...

            E naquela manhã, antes de ir para a rádio, foi na rodoviária pegar o filho, o Henrique, que vinha da faculdade no Rio de Janeiro. Era o seu orgulho! Vinte anos, e fazendo engenharia!

             Mas o ônibus atrasou. E logo soube que ele tinha quebrado no caminho. Esperou até o início da tarde. E nada.

             E agora? Precisava correr para a rádio. Tinha hora para entrar no ar. Ligou para um locutor amigo. Mas ele estava doente.

             Por fim, resolveu ir ele mesmo para o trabalho. O filho conhecia a vida atribulada do pai, qualquer coisa, pegava um táxi: tinha a chave de casa.

           Assim que chegou na rádio, Jorge começou a apresentar o programa. Esperando a tal beldade italiana.

           Que logo chegou: “Jorge, a Francesca tá aí.” – avisaram.

           E quando Jorge saiu do estúdio e foi para o corredor... Viu uma moça com a pele morena e cabelos crespos, com uma garota adolescente ao seu lado. Italiana a moça não era, mas era bonita.

         Perguntou à mulher se era ela a Francesca. Mas na verdade... A Francesca era a filha!

           Uma menina magrela, de pernas finas, com não mais de quinze anos!

            Sebastiana também tomou um susto. Aquele era o Jorge Bandolim? Baixinho, barrigudo e careca? Aaaaaaaah, não!

            Mas Jorge, refeito do susto, foi muito educado. Mostrou a Sebastiana toda a rádio, e até a deixou sentar no estúdio, em frente ao microfone.

            E enquanto Sebastiana se maravilhava com tudo... Começou a rolar um clima entre sua mãe e o Jorge.

            Por fim, despediram-se na saída. Sebastiana um pouco refeita da decepção com o locutor – afinal, o passeio tinha sido o máximo! Imagina o que não ia contar de vantagem para a patota lá da Vila!

            Já entre Jorge e Vitória – o nome da mãe de Sebastiana – houve um doce silêncio, e sorrisos envergonhados. Jorge deu a ela seu telefone. E prometeram se encontrar de novo.

            Mas antes que elas se fossem, chegou um jovem de vinte anos, com uma mala nas mãos. Jorge correu até ele, pegou a mala para si, e apresentou o rapaz às duas:

            - Este é meu filho, Henrique. Ele veio hoje a Brasília para passar o feriado comigo.

            E quando Sebastiana e Henrique se cumprimentaram, olharam um nos olhos do outro.  E sorriram tímidos.

            Pois, quem diria, o amor tem seus próprios desígnios.

            E assim, naquele feriado, Jorge pediu Vitória em namoro. E Sebastiana e Henrique deram seu primeiro beijo. E prometeram se reencontrar nas férias.

            E no fim das contas, Sebastiana não só encontrou seu primeiro amor. E um padrasto carinhoso.

            Mas também sentiu um gostinho de vingança.

            Desde que começou a namorar o Henrique...

            O Claudinho da rua de cima parou de imitar o Elvis Presley, pois quer parecer mais adulto. E não para de pegar no pé de Sebastiana.
            Agora é ele quem fica suspirando por ela. PNC!

          








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segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Balão Azul - Segunda Parte



            E na manhã seguinte, deixaram André com a vizinha, que era dona-de-casa, antes de irem ao trabalho.

                A filha dela, aquela mais velha que André, não deixou de mexer com o menino:

                - Quem sabe a sua irmã-fantasma agora vai embora? – e dava uma risadinha irônica.

                André ficou quieto, calado, o dia inteiro. Esperando os pais voltarem. Só conversava com Antônio, quando ninguém estava olhando.

                Depois de chegar do trabalho, a mãe pegou André, e deixou ele desenhando na sacada. O filho estava muito quieto, mal dizia alguma palavra.

                A mãe então ligou para sua irmã, que morava em Macapá. E conversando um pouco com ela, descobriu que a filha dela, a Daiana, sua própria sobrinha, estava de férias, e tinha vontade de conhecer Brasília.

                Perguntou se ela não poderia cuidar do André enquanto se ausentavam. E a sua irmã concordou na hora. Juntavam o útil e o agradável.

                No dia marcado, foram os pais com André buscar Daiana no aeroporto.

                O avião demorou a pousar. O aeroporto estava sem teto. Era por causa da fumaça, vinda das queimadas em torno da capital.

                Quando ouviu isso, André olhou para cima. E falou com a mãe:

                - Mãe, diz pra eles que o aeroporto tá com teto, sim!

                Mas a mãe não deu atenção. Estava mais preocupada com Daiana.

                Finalmente o avião pousou.

André, curioso,  viu surgir na saída do desembarque uma garota de pele moreno-clara e cabelos crespos. Os olhos eram meio puxados, e o sorriso grande e gostoso lembrava o da sua avó.

                Gostou dela assim que se viram.

                Ela largou o carrinho com as malas, abaixou-se e abraçou André com carinho:

                - Oi, priminho! Que bom te conhecer!

                Daiana achou Brasília estranha e bonita ao mesmo tempo. Aquelas avenidas tão largas, cheias de árvores... Parecia que estava viajando na estrada, ou margeando uma fazenda. Mas não parecia que estava em uma grande cidade.

                Achou bonitinhos aqueles furinhos nos prédios. Disseram a ela que se chamava cobogó. Cobogó? Que nome engraçado.

                Perguntou onde eles moravam. Na 411 sul, bloco P. Não entendeu nada. E o nome da rua? Não tinha rua. Que estranho.

                E a tesourinha que fizeram para chegar em casa? Saíram do Eixão, aquela via compriiiiiiida... E fizeram um retorno, e outro retorno, passaram debaixo de um viaduto... Ainda bem que não dirigia, não ia saber andar ali nunca.

                Quando chegaram, era um bloco de três andares. E não tinha elevador. Foram subindo com a mala pesada até o último andar.

                Não disse nada, mas achou o apartamento um pouco pequeno... Afinal, eles eram os tios ricos que moravam em Brasília. Ou pelo menos era isso que ela sempre pensara.

                Tomaram um café. E durante a conversa, Daiana se esforçou por elogiar Brasília. E lembrou que queria conhecer a Chapada dos Veadeiros, tinha ouvido falar muito.

                A mãe de André ficou calada, e um pouco constrangida. E Daiana ficou sem saber o que falar. Havia dito algo de errado?

                E o pai de André explicou para Daiana que fora naquele parque que acontecera o acidente. Andréia havia mergulhado em uma cachoeira, batendo a cabeça em uma rocha escondida nas águas.

                Daiana pediu desculpas. Sabia da prima, mas não tinha detalhes do que havia acontecido. Pensou que fora um acidente de trânsito, ou algo assim.

                Mas o pai disse que estava tudo bem. Já estavam conformados com isso. E continuaram conversando sobre outros assuntos.

                À noite, colocaram um colchonete entre as camas de Andréia e de André para Daiana se deitar. E ela e André ficaram conversando.

                André queria saber tudo sobre Daiana!

                E ela explicou que Macapá era na Floresta Amazônica. As árvores lá eram enormes. Não era como no cerrado, onde elas são pequenas e retorcidas. Às vezes, as matas são tão fechadas, que dentro delas não entrava a luz, e parecia que era de noite.

                André perguntou a Daiana se ela guardava um segredo. Daiana garantiu que sim. E André explicou que tinha medo da irmã de noite, e não conseguia dormir. Mas não queria contar para a mãe, com medo de magoá-la.

                Daiana prometeu que não ia dizer para ninguém.

                E pensando em acalmar o menino, perguntou se ele não queria ouvir uma história.

                André, animado com a prima, quis ouvir.

                E Daiana contou-lhe sobre um menino da floresta, chamado Curupira. Ele só vestia uma tanga, parecia com os índios, com a pele morena e os olhos puxadinhos. Só havia um detalhe: seus pés eram virados para trás. Ele protegia os animais da floresta. Então quando os caçadores vinham, viam as pegadas do Curupira. E tentavam segui-las. Mas em vão! Pois com as pegadas viradas aos contrário, eles, sem saber, seguiam o caminho do Curupira de trás para a frente. Não conseguiam encontrá-lo e acabavam perdidos na floresta.

                No entanto, André ficou ainda mais assustado. Agora com o Curupira.

                Mas Daiana garantiu que, além dos animais, o Curupira protegia também as crianças.

                O que não foi consolo para ele. Então Daiana ficou acordada, fazendo cafuné em André, até ele pegar no sono.

                No dia seguinte, Daiana chamou André para brincar com ela. Ela ensinou ele a soltar pipa, a subir em árvore, a brincar de bolinha de gude.

                Apostaram corrida, brincaram de pega-pega. Por fim, foram almoçar – a mãe de André deixou comida no freezer, para Daiana descongelar no micro-ondas. E ela ficava orgulhosa de si mesma, como toda a adolescente fica quando se vira sem os pais por perto. Era como se a casa fosse dela!

                De tarde, apareceram alguns meninos no campinho, em frente ao bloco. E Daiana sugeriu a André que se enturmasse com eles.

                Mas quando ele chegou, os meninos viram de novo o urso na sua mão. E foi a gozação de sempre.

                Por isso, André foi caminhando de volta até Daiana. Quando viu ao seu lado uma árvore, um pé-de-jamelão, com muitas folhas amareladas. Parecia meio velhinho.

                E André ouviu uma voz vinda da árvore:

                - Socorro! Me ajude!

                André ouviu assustado. E teve vontade de fugir. Era a árvore que falava com ele?

                - Venha! Suba rápido! Socorro!

                E com cuidado, André subiu em um dos galhos. E logo estava no meio da copa. Algumas folhas caíam no chão, lá embaixo.

                E se ele caísse da árvore? André parou um pouco.

                Mas ouviu novamente: 

                - Aqui, aqui! Nesse buraco!

                E viu bem perto um burado no tronco do pé de jamelão. E um braço acenando lá de dentro.

                Puxou com cuidado. E de lá saiu uma criança, que nem ele. Estava vestido só com uma tanga. O cabelo bem pretinho e liso. Parecia um índio.

                E mais abaixo, para grande surpresa de André, os pés eram voltados para trás!

                “Não se assuste. Meu nome é Curupira. Estava preso aqui. Muito obrigado por me ajudar! Qual o seu nome?”

                “André.”

                E o Curupira explicou que fugiu de um incêndio na mata.

André pensou: “devem ser as queimadas de que a mamãe falava no aeroporto!”

Na fuga, o Curupira acabou naquele campinho, e escondeu-se dos seres humanos no tronco daquela árvore.

                - Que lugar é esse? Tem árvores, mas as tabas são feitas de pedra...

                - É uma cidade. Se chama Brasília.

                - Gostei do nome. Sabe, esse pé-de-jamelão está muito triste... Ele me disse que está morrendo...

                - André! – era Daiana que chamava ao longe

                André se despediu do Curupira. E desceu rápido da árvore.

                - André, o que você estava fazendo nessa árvore?

                - Estava conversando com o Curupira.

                - Curupira?

                E deu uma risada. André não entendeu.

                - Que imaginação, priminho... E tome, você esqueceu o ursinho caído aqui no chão.

                E no outro dia, enquanto Daiana estava distraída, André subia na árvore para encontrar seu novo amigo.

                O ursinho ficou mais uma vez caído no chão.

                O Curupira revelou que estava com saudade da floresta.

                 - Eu também estou com saudade – lamentou André – saudade da vovó Isabel.

                - A rainha Isabel?

                André ficou surpreso com o Curupira. Então a avó era mesmo uma rainha!

                O Curupira continuou:

                - Ela é muito minha amiga!

                - Mas ela morreu...

                - Não morreu não! Ela me disse que foi para o reino dela!

                - E onde é esse reino?

                - Para entrar é muito fácil. É só colocar a foto dela na frente de um espelho.

                E André correu para casa. Lembrou-se da foto da avó na sala.

                E quando André entrou em casa, Daiana perguntou:

                - Onde você andava, priminho?

                - Estava brincando com as outras crianças, lá embaixo.

                - Que bom, André! É sempre legal ter novos amigos! Eu não falei que você conseguia?

                - É sim. – confirmou sério.

                E enquanto Daiana preparava um lanche para os dois na cozinha, André pegou a foto da avó no aparador e foi correndo para o quarto.

                Lá abriu a porta do armário, e colocou a foto na frente de um espelho grande ali pendurado. E nele apareceu a avó de André, com uma coroa de pedrinhas azuis na cabeça, combinando com os brincos.

                - Estava esperando você, netinho! Venha conhecer o meu reino!

                E André, com cuidado, pôs um pé, e depois o outro, dentro do espelho.

                E viu na sua frente um palácio enorme, todo de ouro... Com um jardim todo de rosas.

                 - Eu adoro rosas, são minhas preferidas!

                 E colheu uma das flores, que pôs na lapela do vestido de mesma cor. A rosa começou a mudar, e tornou-se uma flor de tecido, costurada em seu vestido.

                - O meu maior sonho era andar de balão com você e com a minha neta. Como anda ela?

                - Vovó, a Andréia teve um acidente, depois que a senhora foi pro céu. A mamãe disse que ela está em coma, e que isso é como se a gente estivesse dormindo para sempre. Mas que de repente você pode acordar. Quando eu durmo de noite, eu fico com medo da minha irmã acordar de repente.

                - Ô, meu netinho... Como você está vendo, eu não estou no céu. Só viajei aqui para o meu reino. E a sua irmã... Ela está dormindo mesmo, que nem a Bela Adormecida. Deve ser porque ela esqueceu que é uma princesa... Assim como você é um príncipe.

                Aproximaram-se de uma mesa. Sobre ela, havia duas almofadas cor-de-rosa. Cada uma delas com uma coroa. Uma delas bem pequena. Isabel pegou a menor delas, e colocou sobre a cabeça de André.

                - Aqui – ela disse – agora você é o meu pequeno príncipe. E essa – continuou, enquanto pegava a outra coroa – você deve levar para sua irmã. Com certeza, se a Andréia lembrar que é uma princesa, vai acordar.

                - Que legal, vovó! Vou correndo contar para o Curupira!

                - O Curupira? Ora, ora, ele ainda está naquele tronco de árvore?

                - Está sim, vovó!

                - Então me avise, assim que você acordar a Andréia. Precisamos devolvê-lo para a floresta, lá na Amazônia.

                E André saiu do espelho. Aproximou-se de Andréia, na cama, e colocou a coroa sobre a cabeça da irmã.

                Mas Andréia não acordou. E André começou a chorar.

                Uma de suas lágrimas caiu sobre o rosto de Andréia, que de repente abriu os olhos!

                Espreguiçou-se bastante, e depois abraçou o irmão.

                - Por quanto tempo dormi? – perguntou.

                Mas André estava com pressa. Puxou a irmã, e foram até o espelho, onde ele chamou Isabel:

                - Vovó!

                Que logo saiu de dentro do espelho. E abraçou Andréia.

                - Que saudades!

                Virou-se para André:

                 - Meu netinho, onde você tem alguns balões?

                 E André lembrou-se dos balões da festa de aniversário! Com certeza alguns teriam sobrado!

                Foi até a sala. Daiana conversava com a mãe de André no telefone:

                - Sim, tia! Está tudo bem! O André até fez alguns amigos!... Sim, então a senhora vem mais cedo hoje?

                 André chegou esbaforido:

                - Daiana! Daiana!

                - Que foi, André? Eu tô conversando com a sua mãe.

                - Onde é que estão os balões?

                - Eu não tenho a menor ideia, André!... – voltou ao telefone – Tia, onde é estão os balões do André? Ah, tá...

                Virou-se para o menino.

                - Tão ali na gaveta do armário da TV. Essa primeira – disse apontando – a sua mãe falou que tudo bem em você brincar com eles.

                 E André abriu a gaveta. Lá dentro, um monte de balões azuis estavam em um pacote de plástico.

                O garoto foi mostrar o pacote com os balões para a avó.

                - A sua prima vai ficar muito tempo na sala?

                - Por que, vovó?

                - Tem muita coisa que gente adulta não entende. Acho melhor a gente procurar o Curupira sem ela.

                 E André se lembrou da risada da prima, quando contou que ele tinha ficado amigo do Curupira.

                 “Como você tem imaginação, priminho!” – tinha dito a ele nessa hora. E André concordou com a avó. Os adultos não entendem nada.

                Mas como iam descer sem passar pela sala?

                E Andréia teve uma ideia.

                - Ué, vamos fazer que nem a Rapunzel.

                - Mas, Andréia, a Rapunzel tem tranças.

                - E daí? Deixa eu te mostrar... Enquanto estava dormindo... Olha como o meu cabelo cresceu!

                E Andréia desfez o coque que segurava o seu cabelo. O que revelou um cabelo castanho enorme, que caiu se desfazendo pelo chão do quarto.

                E antes de André e a vovó descerem pela janela, segurando-se no cabelão de Andréia... Isabel pediu ao netinho:

- Não esquece de trazer sua pipa! Vou precisar dela!

Depois que os dois chegaram no chão, Andréia prendeu a ponta do cabelo com um nó no pé da cama, e veio descendo por ele até embaixo, com uma tesoura na mão. Quando pôs os pés na grama – záááás! – cortou o pedação que ficara preso. E ainda sobrou bastante para ficar até a cintura.

Foram correndo até campinho. Subiram na copa do pé-de-jamelão com os balões e a pipa.

Assim que viu Isabel, o Curupira ficou todo feliz:

- Minha rainha...

Mas Isabel foi bem prática.

- Meu querido, vamos devolvê-lo lá pra Floresta Amazônica. Por favor, pergunte à árvore se ela quer te ajudar.

O Curupira, já adivinhando o plano da Rainha Isabel, perguntou àquela planta já idosa:

                - Pé-de-jamelão, se você quiser me levar agite a copa duas vezes. Isso é sim. Se não quiser me levar, agite três vezes. Isso é não.

                E ele começou a agitar os galhos. Uma... duas... e parou!

                 Então Isabel pendurou vários balões azuis nos galhos. E deu a pipa para André:

                - Faça a pipa voar bem alto!

                - Mas não tem vento, vovó!

                E então o Curupira deu um sopro muito, muito forte! E a pipa foi voando, bem alto! E lá em cima, pegou uma corrente forte de vento!

                André amarrou bem forte a linha em um dos galhos.

                E enquanto a pipa puxava... Os balões começaram a subir.

                As raízes foram sendo arrancadas do chão...  Até que toda a árvore estivesse em pleno ar.

                E no meio de todos aquela arrumação, o ursinho de André ficou no chão, abandonado.

                Daiana não conseguia encontrar André em casa. Então se lembrou do campinho. Desceu as escadas bem rápido. Embaixo do bloco, começou a procurá-lo. Foi quando viu aquela árvore cheia de balões azuis subindo no ar.

E admirada, viu André sentado em um galho, ao lado da irmã, de um indiozinho e uma senhora com uma coroa.

                André viu Daiana lá embaixo... E o carro dos pais chegando. Eles pararam o carro e saíram, e ficaram olhando lá para cima, boquiabertos com o que viam.

                André só lamentava que aquele balão-árvore não fosse todo azul... Mas o pé-de-jamelão, como se tivesse ouvido o menino, começou a se azular todo. O fio da pipa também foi ficando azul, até chegar a ela lá em cima!

                E cada vez mais distante, aquele estranho balão foi se misturando às cores do céu azul anil de julho.



*                *               *



                No dia seguinte, André abandonou o ursinho. E passou a brincar com as outras crianças na escola.

                Depois de um ano, Andréia por fim morreu. André já estava com sete anos. E pediu aos pais para ir ao enterro. Antes de voltarem, o menino correu de volta ao túmulo da irmã.

E sobre ele, deixou o desenho da viagem de balão, com ela, a avó, e o Curupira.

                André nunca mais viu Daiana.

Ele permaneceu desenhando, cada vez melhor. E quando adulto, tornou-se um artista plástico bem conhecido.

E azul continuou a ser a sua cor favorita. PNC!

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"Aaaaahhh!!! Acabou!... Mas semana que vem tem mais, leitores! Comente, divulgue, pire! Beijão do Cerrado pra vocês!!! <3"