Amor nos Tempos do Iê-iê-iê
Sebastiana
morava com a mãe viúva na Vila do IAPI, no Núcleo Bandeirante. Haviam migrado
há poucos anos da Paraíba, logo depois da inauguração da nova capital.
A garota
não tinha muita coisa pra fazer na vila. A não ser dançar nos bailinhos ao
ritmo da Jovem Guarda, quando ia com a melhor amiga, a Maria do Socorro.
Lá ela
suspirava com o Claudinho, o broto que morava na rua de cima. Ele tocava Elvis
Presley no violão, e usava uma calça apertada e um topete com brilhantina, para
ficar parecido com seu ídolo.
Mas o
Claudinho não dava a menor bola para a Sebastiana.
A outra
distração das duas amigas era ouvir o programa jovem da Rádio Nacional.
Mandavam cartas para o seu ídolo, o locutor Jorge Bandolim. Maria do Socorro
gostava de pedir música do Roberto Carlos. E assinava: “Abraços, Mary of Help”.
Já Sebastiana
era mais criativa. E era fã da Rita Pavone. E por isso, Sebastiana Ferreira nas
cartas virava... Francesca Pasquali.
Um dia
chegou na casa de Sebastiana uma carta da Rádio Nacional. Chamava –a para
conhecer a rádio por dentro! Quer dizer,
ela não... a Francesca.
E de
noite, ela sonhou com o seu ídolo da rádio.
Nele,
ela conhecia o dono daquela voz grave, tão charmosa... E via um rapaz com vinte
anos, um topete escuro, os olhos amendoados... Que a pegava nos braços e...
Mas a
mãe de Sebastiana a acordou bem nessa hora!
- Vamos,
filha! Tá na hora de ir para a escola! À tarde eu levo você na rádio!
Mas o
que Sebastiana não sabia era que o tal Jorge Bandolim também andava suspirando
pela sua Francesca.
Quando
via aquela carta assinada pela Mary of
Help, dava risada, era óbvio que era uma Maria do Socorro quem escrevia.
Mas Francesca... A carta vinha lá da
Vila do IAPI, mas quem sabe não tinha mesmo uma italiana daquelas por ali?
Imaginava
uma Sophia Loren, uma Gina Lolobrigida...
E
naquela manhã, antes de ir para a rádio, foi na rodoviária pegar o filho, o Henrique,
que vinha da faculdade no Rio de Janeiro. Era o seu orgulho! Vinte anos, e
fazendo engenharia!
Mas o
ônibus atrasou. E logo soube que ele tinha quebrado no caminho. Esperou até o
início da tarde. E nada.
E agora?
Precisava correr para a rádio. Tinha hora para entrar no ar. Ligou para um
locutor amigo. Mas ele estava doente.
Por fim,
resolveu ir ele mesmo para o trabalho. O filho conhecia a vida atribulada do
pai, qualquer coisa, pegava um táxi: tinha a chave de casa.
Assim
que chegou na rádio, Jorge começou a apresentar o programa. Esperando a tal
beldade italiana.
Que logo
chegou: “Jorge, a Francesca tá aí.” –
avisaram.
E quando
Jorge saiu do estúdio e foi para o corredor... Viu uma moça com a pele morena e
cabelos crespos, com uma garota adolescente ao seu lado. Italiana a moça não era, mas era
bonita.
Perguntou
à mulher se era ela a Francesca. Mas na
verdade... A Francesca era a filha!
Uma
menina magrela, de pernas finas, com não mais de quinze anos!
Sebastiana também tomou um susto. Aquele era o Jorge Bandolim? Baixinho, barrigudo e careca?
Aaaaaaaah, não!
Mas Jorge, refeito do susto, foi muito educado. Mostrou a
Sebastiana toda a rádio, e até a deixou sentar no estúdio, em frente ao
microfone.
E enquanto Sebastiana se maravilhava com tudo... Começou
a rolar um clima entre sua mãe e o Jorge.
Por fim, despediram-se na saída. Sebastiana um pouco
refeita da decepção com o locutor – afinal, o passeio tinha sido o máximo!
Imagina o que não ia contar de vantagem para a patota lá da Vila!
Já entre Jorge e Vitória – o nome da mãe de Sebastiana – houve
um doce silêncio, e sorrisos envergonhados. Jorge deu a ela seu telefone. E
prometeram se encontrar de novo.
Mas antes que elas se fossem, chegou um jovem de vinte
anos, com uma mala nas mãos. Jorge correu até ele, pegou a mala para si, e
apresentou o rapaz às duas:
- Este é meu filho, Henrique. Ele veio hoje a Brasília
para passar o feriado comigo.
E quando Sebastiana e Henrique se cumprimentaram, olharam
um nos olhos do outro. E sorriram
tímidos.
Pois, quem diria, o amor tem seus próprios desígnios.
E assim, naquele feriado, Jorge pediu Vitória em namoro.
E Sebastiana e Henrique deram seu primeiro beijo. E prometeram se reencontrar
nas férias.
E no fim das contas, Sebastiana não só encontrou seu
primeiro amor. E um padrasto carinhoso.
Mas também sentiu um gostinho de vingança.
Desde que começou a namorar o Henrique...
O Claudinho da rua de cima parou de imitar o Elvis
Presley, pois quer parecer mais adulto. E não para de pegar no pé de Sebastiana.
Agora é ele quem fica suspirando por ela. PNC!
Agora é ele quem fica suspirando por ela. PNC!
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