Pirei no Conto

Pirei no Conto

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Doutor Strangelove, ou Como Aprendi a Amar a Coxinha e Fugi para Miami - Só Que Não










Como todos sabem, após o golpe comunista perpetrado por Lula em 2002, os empresários que não conseguiram fugir para Miami acabaram presos e torturados, quando não foram mandados pro Acre.
A Revolução Cultural Brasileira levou milhões de pessoas da classe média para programas de reeducação, colhendo cana ou trabalhando em seringais ou carvoarias, sob péssimas condições de vida.
Smartphones e carros importados foram derretidos para criar grandes estátuas dos líderes supremos, à vista e choro de seus antigos donos.
Ministério Público, TCU, CGU e outros órgãos de controle foram extintos. A Polícia Federal tornou-se a Guarda Vermelha, e persegue elementos antirrevolução (geralmente pequenos empresários e profissionais liberais) para prendê-los nas prisões superlotadas do país. Quando descobertos pela própria população, são linchados em praça pública pelos antigos empregados domésticos.
O crime de machismo é castigado com as mulheres atirando sapatos salto quinze no réu até o falecimento. E todas as igrejas agora são obrigadas a usar uma estrela vermelha em lugar da cruz. Igrejas que por lei só casam gays, pois heterossexuais sofrem pena de morte.
Acorda colega!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Você tem o mal gosto de botar a imagem da própria Presidente da República de pernas abertas no seu tanque de gasolina, na frente dos seus filhos. E leva só um pito de uns desconhecidos.
Faz passeata pedindo uma intervenção militar, vestido com a sua camisa da Copa. E é protegido pela polícia, isto é, pelo poder público.
Assiste uma novelinha em que o padrasto transa com a esposa e sua filha juntos. Mas faz um auê por causa dum beijo bobo entre duas mulheres. E sabe o que te acontece? Nada.
Fica aí na frente do seu smartphone último tipo, reclamando nas redes sociais que por causa do governo não pode mais viajar uma vez por ano ao exterior. E enquanto isso a sua empregada fica lá, lavando o seu vaso sanitário, pra depois pegar duas horas de ônibus pra voltar pra casa. Te acontece algo? Nadinha.
Reclama de falta de educação, mas nunca defendeu a escola pública. Reclama de corrupção, mas faz gatonet e compra DVD pirata. Quer mais segurança pública e justiça para todos, mas se amarra em um linchamento.
E nada, nadinha te acontece! Pode reclamar do que quiser pra quem quiser!
De que ditadura você tá falando?!
Sabe de uma coisa? Vai pra Miami, cara! Mas vai logo!
Mas saiba que vai ser obrigado a ter a maior finesse com quem você odeia aqui: mulheres, gays, imigrantes, pessoas de outras religiões e raças, ateus... Lá ninguém vai sentir graça das suas piadinhas.
E vai ter que lavar a própria cueca, e saber onde fica o fogão e as panelas se quiser comer alguma coisa.
Bem vindo às democracias liberais. Aquele lugar em que a meritocracia é pra valer, no qual cada um se vira por si. Em que as pessoas respeitam as diferenças de ideias, sem clamar por uma ditadura.
Ah, e sobre o início do texto... Não, o Brasil não é uma ditadura comunista-gayzista-feminista. É só olhar ao redor.
Você é que tá viajando, meu caro. E não é pra Miami. PNC!





******************************************





"Vai uma coxinha de frango aí?..."
" Nãããããããããããooooo!!!!!"



            Paz e amor, galera! Você pode ser de que bandeira for, tá tudo certo! A boa troca de ideias faz parte da democracia. E enquanto isso... Mande um e-mail! Comente, critique, elogie, pire!

                                                             felipesilvaberlim@gmail.com

             E nos vemos no próximo conto, que já está saindo do forno: "O Amor de Narciso"... Aguarde!  ;)

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Crônica: A Intangibilidade do Encontro

     





Deveria haver uma nova classe de verbos. Há os de ligação, os transitivos e os intransitivos.
Sugiro uma nova classe: os verbos espelhados.
Porque há aqueles que nos permitem, em um exercício de devaneio, entrar em uma casa de espelhos. Um lugar em que o espelho é sempre o outro, e o espelho do outro é você mesmo.
            Como o verbo “pensar”.
Eu penso sobre o que você é.
E você pensa sobre o que sou.
Mas eu também posso pensar sobre o que você pensa de mim. E assim por diante.
É sempre possível acrescentar mais algo: eu penso no que você pensa que eu penso que você pensa que eu penso que você pensa que eu penso que você pensa que eu penso...
E continuar nesse encadeamento para sempre.
E nisso, seus olhos refletem os meus até não mais poder.
 E o que você, ou eu percebemos, de fato, entre esses espelhos?
Talvez muito pouco.
Pois afinal, quem pode dizer que realmente conhece ou entende o outro?
Mas apesar dessa impossibilidade de sabermo-nos, há uma continuidade entre mim e você, e de nós a qualquer pessoa.
Pois o que exalo em minha respiração um dia poderá fazer parte de você:  o ar que sai de meus pulmões um dia será absorvido pelos seus, e fará parte de seu corpo.
E todos os átomos, de tudo que existe, inclusive do meu e do seu corpo, foram formados dentro de fusões ocorridas dentro de estrelas.
Que um dia deixaram de existir, formaram nebulosas, e de lá nasceram outras estrelas... Inclusive nosso sol e nosso planeta.
Deste pó criado das estrelas viemos. E a este pó um dia retornaremos.
E após a sua e minha morte, começará nossa metamorfose:  a água do meu e do seu sangue e de suas e de minhas lágrimas formarão nuvens e rios. O ar sairá por nossas narinas e será atmosfera. Nossos músculos e ossos farão parte dos grãos de terra.
Elementos que serão absorvidos pelas raízes das plantas, respiradas pelos animais, bebidas por pessoas que não conheceremos. Formarão outros seres vivos, e outros seres humanos.
Se nossa consciência é finita e curta, nossa vida é eterna, e somente se transforma em outras vidas.
Somos e não somos os mesmos seres.
Mas o que realmente somos?
Vivemos essa constante ironia: nossas mentes encontram-se eternamente nessa casa de espelhos e de sombras...
Mas que fora delas é uma e só coisa, múltipla e sem limites.
E de toda essa contradição de nosso olhar, de nosso vir-a-ser, ao transcender o ponto de vista breve de um ser humano...  Essa aparente casa de espelhos reflete a si mesma, e torna-se algo além. Um ponto e um centro.  
Que de ponto, torna-se infinito.
Tão próximo, e tão intangível.






*************************************************





"Como diria Raul Seixas: 'Ser ou não ser, eis a questão...' Peraí, acho que tem algo errado aqui..."




Ok, enquanto eu tento tirar essa taturana da cabeça... 
Seja esperto, e deixe seu comentário, suas críticas e elogios!  ;)  


Beijos do cerrado, queridos! E até o próximo post! <3

domingo, 19 de julho de 2015

Crônica: Uma História da Carochinha

     




Há quem diga que no Brasil não existe preconceito de raça, que é tudo uma questão social.
Já imaginaram um diálogo, assim, bem sincero, entre alguém que quer alugar um apartamento e os candidatos a inquilino, usando esse argumento?
“Frederico tinha um apartamento para alugar nas quadras 300 do Plano Piloto, um dos locais mais caros de Brasília. E marcou com um rapaz de ver o lugar. Mas o cara que chegou era negro.
O Frederico já pensou logo: "Esse preto tem cara de pobre. Depois me atrasa o aluguel..."
Deram uma olhada no apartamento, que era bom. Marcelo – o nome do rapaz negro – perguntou o preço.
- Então, já está alugado. – respondeu o Frederico, com um sorriso amarelo.
- Puxa, que pena. Não sabia. Tudo bem. Vou ver outro lugar. – respondeu o Marcelo.”
Fim.
Mas peraí. Eu falei que ia rolar um conversa com o argumento da questão social. Que tal reformulamos esse diálogo?
Mas antes que eu faça isso, já perceberam que eu não disse de qual raça era o Frederico?
Não precisa, né? Você, meu caro leitor, já sabia que ele era branco, não é mesmo? 
Se você leu até aqui, você não é racista. Mas já parou para pensar nisso? É automático. A nossa cabeça é colonizada. E nela um homem branco é a regra. Os outros é que são a exceção. Tá tão assustado quanto eu? Pois é...
Mas continuando... Eu disse que ia reformular o diálogo, né? Usando o argumento de que o racismo é uma questão social. Afinal, se isso é um bom argumento, todo mundo devia usar isso no dia-a-dia, não?
Nesse caso, seria assim:
“Frederico..."  - vou dizer que ele é branco, estamos combinados? Afinal, ele podia ser de qualquer outra raça, só para lembrar...
Bom, recomeçando... 
"Frederico, um branco, queria alugar um apartamento nas 300. E o primeiro cara que apareceu para alugar chamava-se Marcelo – e era negro.
Quando o Marcelo quis saber o preço, o Frederico respondeu assim:
- Então, Marcelo... -  falou de forma simpática - Você é negro, não é mesmo?...
- É... Sou. E daí?
- Justo.  - respondeu Frederico, entusiasmado – Você é  jogador de futebol, sambista?...
- Não... Imagina! – respondeu Marcelo constrangido – Eu sou empresário, dono de uma concessionária.
- Ah, tá... Não, cara, ó, pode falar à vontade comigo. Eu entendo. Você morando na periferia, tentando melhorar de vida...
- Eu moro no Lago Sul, cara!
- Ah, tá... Lago Sul... – disse Frederico, sem acreditar - Olha, os seus tataravôs vieram em navios negreiros... Morria mais da metade na viagem, né?... Depois chegaram, moraram em senzalas...
- Onde é que você quer chegar com isso?
- ...e depois da Abolição, foram morar longe, em favela, não tinha trabalho, não tinha dinheiro... Então, você, empresário?...  Morando no Lago Sul? Cara, uma pessoa negra no Brasil... É uma questão social, histórica...
- Não tô entendo...
- Tá, eu sei que você, lá na favela, foi mal alimentado, estudando em escola pública, muita greve de professor... Vai ter dificuldade de entender uma situação histórica, social... Mas eu vou explicar! Olha, veja você: um negro, no Brasil, empresário?... Que carro você tem?
- Um Corolla. Tá estacionado lá embaixo. Beeem caro, sabe? – disse Marcelo, já atravessado.
- Viu?! Um Corolla... Não, não tá certo!!!  Pelo IBGE, era no máximo pra você ter um carro usado, daquelas que tão meio caindo aos pedaços, sabe? Isso se você não viesse de ônibus, que era o mais provável.
- Ah, jura? – o sangue já subindo na cabeça do Marcelo.
- Cara...  Olha, o que é que adianta?...  No mínimo, você tá querendo pagar algo acima do que você pode. No máximo, você falsificou os documentos, e alugou esse terno que você tá vestindo, não é verdade?
- Esse terno eu comprei na Itália!!!
- Marcelinho, Marcelinho... Você quer que eu acredite que você comprou isso no exterior? Olha como tá mal cortado!... Vai dizer que você não comprou na Feira do Rolo da Ceilândia?...
- Cara, eu ia até pagar adiantado... Não to acreditando no que eu tô ouvindo...
- Olha, vamos fazer o seguinte. Pra você não ficar constrangido, digamos... Di-ga-mos!... Que eu já tenha alugado pra outra pessoa.
- Quê?! Você já alugou?!
- Nããão!... Mas olha só, se eu dissesse pra você que eu não quero mais alugar, o que você ia pensar?
- Eu ia pensar que era racismo, né? Óbvio!
- Pois é! Agora, olha bem pra mim! Você acha que eu sou racista?
- ...
- Claro que não, cara! Se você quiser, vamo comer uma feijoada qualquer hora, eu tenho vários amigos negros. Até te mostro a minha coleção de discos do Martinho da Vila!
- Cara, eu nem gosto de samba!!!...  Eu toco violoncelo!!!!
- Marcelo, você tá dificultando as coisas. Vamos fazer assim: eu digo que já aluguei, você vai procurar outro lugar, e continuamos amigos. Tudo bem?
- Como é que é?! Você quer que eu seja seu amigo?!
- Agora estamos conversando... Pô, maravilha, cara! Foi um prazer te conhecer, a gente continua se falando, tá bom? E olha, eu tenho uma mãe-de-santo, que vou te contar... Pode te ajudar muito a encontrar um apartamento, viu? Vou te recomendar, faço questão!
- Mas eu sou ateu!!!!!
- Marcelo, Marcelo... Você tá dificultando de novo!...


E viveram felizes para sempre, em plena democracia racial. PNC!








E esses são só alguns exemplos da nossa democracia racial... Você deve conhecer, outros, caro leitor... Infelizmente.