Deveria haver uma nova classe de verbos. Há os de
ligação, os transitivos e os intransitivos.
Sugiro uma nova classe: os verbos
espelhados.
Porque há aqueles que nos permitem,
em um exercício de devaneio, entrar em uma casa de espelhos. Um lugar em que o
espelho é sempre o outro, e o espelho do outro é você mesmo.
Como
o verbo “pensar”.
Eu penso sobre o que você é.
E você pensa sobre o que sou.
Mas eu também posso pensar sobre o
que você pensa de mim. E assim por diante.
É sempre possível acrescentar mais
algo: eu penso no que você pensa que eu penso que você pensa que eu penso que
você pensa que eu penso que você pensa que eu penso...
E continuar nesse encadeamento
para sempre.
E nisso, seus olhos refletem os meus
até não mais poder.
E o que você, ou eu percebemos, de fato, entre
esses espelhos?
Talvez muito pouco.
Pois afinal, quem pode dizer que
realmente conhece ou entende o outro?
Mas apesar dessa impossibilidade
de sabermo-nos, há uma continuidade entre mim e você, e de nós a qualquer
pessoa.
Pois o que exalo em minha
respiração um dia poderá fazer parte de você: o ar que sai de meus pulmões um dia será
absorvido pelos seus, e fará parte de seu corpo.
E todos os átomos, de tudo que
existe, inclusive do meu e do seu corpo, foram formados dentro de fusões ocorridas
dentro de estrelas.
Que um dia deixaram de existir,
formaram nebulosas, e de lá nasceram outras estrelas... Inclusive nosso sol e
nosso planeta.
Deste pó criado das estrelas viemos.
E a este pó um dia retornaremos.
E após a sua e minha morte, começará
nossa metamorfose: a água do meu e do
seu sangue e de suas e de minhas lágrimas formarão nuvens e rios. O ar sairá
por nossas narinas e será atmosfera. Nossos músculos e ossos farão parte dos
grãos de terra.
Elementos que serão absorvidos
pelas raízes das plantas, respiradas pelos animais, bebidas por pessoas que não
conheceremos. Formarão outros seres vivos, e outros seres humanos.
Se nossa consciência é finita e
curta, nossa vida é eterna, e somente se transforma em outras vidas.
Somos e não somos os mesmos seres.
Mas o que realmente somos?
Vivemos essa constante ironia: nossas
mentes encontram-se eternamente nessa casa de espelhos e de sombras...
Mas que fora delas é uma e só
coisa, múltipla e sem limites.
E de toda essa contradição de
nosso olhar, de nosso vir-a-ser, ao transcender o ponto de vista breve de um
ser humano... Essa aparente casa de
espelhos reflete a si mesma, e torna-se algo além. Um ponto e um centro.
Que de ponto, torna-se infinito.
Tão próximo, e tão intangível.
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"Como diria Raul Seixas: 'Ser ou não ser, eis a questão...' Peraí, acho que tem algo errado aqui..."
Ok, enquanto eu tento tirar essa taturana da cabeça...
Seja esperto, e deixe seu comentário, suas críticas e elogios! ;)
Beijos do cerrado, queridos! E até o próximo post! <3
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