Pirei no Conto

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Onça

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                Anísia estava com a pulga atrás da orelha. A maneira como Vitório vinha lhe tratando ultimamente chega já estava irritando. Era um tal amor que vamos combinar: boa coisa não podia ser. Um homem bronco daqueles inventava de trazer flores, de dar beijinho no cangote, de encostar o pezinho frio no dela debaixo da coberta. Ah, mas ele ia ver.
               Um belo dia ele saiu para o bar, Anísia foi atrás. De soslaio, como quem não quer nada, a bolsinha de compra debaixo do braço, qualquer coisa dizia que estava indo para o mercado. Àquela hora? Pois é, se não fosse ela, a geladeira vivia vazia, não tinha nem para as visitas.
                Mas a discussão não foi necessária. Aquele homem estava tão entretido no seu caminho, que nem percebeu a presença dela. Anísia só sentia o sangue quente subindo para a cabeça, a mãozinha fechando num soco. Ora.
                Vitório agora assobiava. O passo macio, bem pedante. Mas como tava apresentado! Parou em frente a uma porta, bateu duas vezes. Abriu uma quenga muito da desavergonhada, flor no cabelo, o lábio pintado de vermelho, perfume que chega empesteava. Havia de pensar que era incenso, para sair perfumando o ambiente por aí. Deu um beijinho no rosto, e puxou ele para dentro.
                Anísia deu um pulo, jogou a quenga para o lado, Vitório para o outro.
                - Mulher, cê tá louca? – surpreendeu-se Vitório.
             Mas Anísia não queria saber. Deu um safanão na sacripanta, rasgou o vestido, e se agarrou no pescoço da pobre, que começou a sufocar – “me largue, sua louca!”, “Então deixe meu homem em paz.” A quenga desdenhou: “Quem manda não cuidar do seu macho?”.
                Outro safanão, saiu sangue, o cabelo comprido agora na mão de Anísia.
                - Repete se tu é mulher!
                - Me larga, sua cachorra!
                - Cachorra é você, que não respeita o homem das outras!
                Vitório tentou se afastar de mansinho, mas Anísia percebeu.
                - Volte aqui, seu cabra! Que tu não é homem!
               Vitório podia ser safado, mas era cabra macho. Não ia levar desaforo da mulher. Mas quando já ia dar o primeiro tabefe, Anísia foi mais rápida. Agarrou foi logo seus bagos.
                - Vai! Tu não é homem? Vem bater! Te arranco tua macheza é agora!
                E apertava mais ainda.
                - Oh, meu amorzinho! Vamo, me largue, minha cabritinha!
                Depois desse dia, Vitório nunca mais foi para o bar, e perdeu os amigos. Pois toda a vez que saía na rua, alguém dizia: “Essa onça agora mia!”.
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2 comentários:

  1. Só um aviso: Vitório virou Virgíliio no final do diálogo. Foi um texto divertido, com um certo tempero nordestino.

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  2. Obrigado pela leitura atenta, Azul! O equívoco já foi corrigido! Que bom que você se divertiu com o texto. Continue acompanhando a gente! Um abraço!

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