Fabrício Hundou é um jovem brasiliense de 21 anos, a quem a escrita chamou a atenção desde a infância, por influência materna. Culto e educado, é também alguém muito irreverente e extrovertido. Participa do Lounge Poético que acontece todas as terças-feiras no Balaio Café, na 201 Norte, e tem alguns de seus contos publicados no site Hierophant.
Pirei no Conto - O que inspirou você a se tornar um escritor?
Hundou - Nos anos noventa, minha mãe tinha um livro de poesias, de
folhas bem amareladas, e eu o
adorava, simplesmente pela capa ser um violoncelo preenchido por rosas.
Na infância, fui uma criança muito criativa, porém conversava pouco. Na escola, ao fazer redações, era
muito hiperbólico, muitos professores me podavam. Por anos, tive o
hábito estranho de ler o dicionário Aurélio. Extraía palavras
complicadas e rebuscadas, anotava o significado e tentava inseri-las no
meu quotidiano. Quando entrei na adolescência, conheci a internet. Fiz um blogóide aos 14 anos de idade
onde publicava textos breves, mas com rimas. Tenho furtiva intimidade com as
palavras: esperança, saudade, sonho, tempo e vida. Todavia, não posso
levar estas como resumo de meus influxos, eis que mesmo o silêncio pode
ser inspirador.
Pirei no Conto - Qual foi a inspiração para escrever As Putas da "Mia" Rua?
Hundou - No
auge da madrugada, por volta de quatro horas da manhã, alguns gatos em minha
rua realmente estavam no cio e os sons eram estridentes. Isso me fez
perder o sono. Peguei o computador e comecei a digitar. De repente, o
computador desliga por falta de bateria. Ao religar, tudo o que eu tinha
escrito tinha sido perdido. Tive um surto de desgosto. Após os
suspiros, forcei a memória e comecei a reescrevê-lo. Num cômico devaneio
comparei os felinos de rua às garotas de programa, depositando muita
pejoratividade e escárnio, implementando vozes sociais, crítica e
poesia. Foi inesquecível como se deu esse conto.
Pirei no Conto - Como funciona para você o processo de escrita?
Hundou - Escrevo simultaneamente fazendo revisões, e me vigio para reler sempre. Porque muitas vezes sou um pai irresponsável: nem tudo o que crio quero voltar a ver. O único porém é que, quando releio, sempre quero alterar algo. E nesse segundo momento eu me freio para não alterar nada: uma vez que escrevo, escrito está. Aquele momento torna-se singular, um registro temporal. Incontáveis foram as vezes que reli algo e não me reconheci, questionei quem seria. Alguns acontecimentos me auxiliam na criação de um texto - ora seja a depressão emocional, ora sejam os miados dos gatos na rua. Uma frase ou palavra podem me dissolver por inteiro. Gosto de buscar coesão e pouca incoerência. Creio que isso tem trazido uma identidade à minha forma de escrever. Não tenho uma rotina para esse meu lado, por vez, há muita rebeldia. Posso acordar de madrugada, abrir o computador ou pegar uma caneta e anotar. Posso estar no trânsito, guardar em pensamento e depois de muito tempo desenvolver.
Hundou - Desde que ingressei na faculdade, perdi o hábito da literatura. Portanto, as influências estão mofadas. Gosto muito de Viviane Mosé que traz uma incrível perspectiva de filosofia e psicanálise, uma releitura nietzscheana. Gostei muito de Clarice Lispector. O sarcasmo niilista de Fiodór Dostoiévski e o puro infeliz romance de Caio Fernando Abreu me resumem.
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