Um Golinho de Vodca

       Dimitri não ganharia mais o Prêmio Nobel. E olha que a experiência com o novo – e secreto – acelerador de partículas russo havia sido um sucesso. Dimitri conseguiu criar um pequeno buraco negro, como havia previsto.

Dimitri só não contava que a experiência fosse assim tão bem sucedida: junto sumiram seu país, a Europa, o resto do mundo, e todos os prêmios Nobel. Só restaram o próprio Dimitri, o seu laboratório, e sua secretária Irina, flutuando em torno do buraco negro.

Felizmente, havia provisões no laboratório. Também havia ar, as leis da física já não se aplicavam mais.

E havia Irina, a doce e bela Irina. E uma garrafa de vodca. As provisões estavam acabando, mas, enfim, ainda dava para se divertir até o fim definitivo. Um homem, uma mulher... Se é que vocês me entendem.

Só restava um problema: Dimitri há tempos estava de olho em Irina. Uma vez esqueceu seu PhD, seu profissionalismo, uma garrafa de vinho barato vazia, e chegou junto.

Sem muito resultado. Irina foi taxativa: nem que fosse o último homem do mundo.

Mas agora ele era.

Só precisava de uma horinha de fraqueza dela, e afinal, o que um golinho de vodca não faz nestas horas.

Mas descobriu que Irina era uma mulher de palavra.

Dimitri já estava se acostumando com a ideia de passar seus últimos dias em um prazer bastante solitário, quando viu um ponto branco, que se aproximava cada vez mais. Olhou pelo binóculo: era um homem flutuando que chegava a grande velocidade.

Ele e Irina improvisaram uma rede com um lençol, para agarrar o moço quando passasse por ali. Conseguiram. E para alegria de Irina e grande desapontamento de Dimitri, era o Brad Pitt.

Brad – agora já íntimo dos dois – contou que, como Dimitri e Irina, viu um grande brilho branco enquanto estava filmando, depois um vazio enorme, e ele solto no espaço. Por sorte, tinham-no salvo de ser engolido pelo buraco negro.

Pois esse era o único problema por ali: por alguma razão, qualquer coisa que rolava pelo chão do laboratório até o lado de fora era imediatamente tragada pelo buraco.

Enquanto conversavam, Dimitri via Irina cheia de manha com Brad, Brad cheio de carinho com Irina. E Dimitri começou a temer pela própria vida.

                Estavam cansados, foram todos dormir. Quando Dimitri acordou, e foi até a sala encontrar Irina e Brad, deu com os dois olhando para ele de um jeito estranho.

 Dimitri foi dando um passo para trás, mas foi tudo muito rápido: Irina tentou empurrar Dimitri pela janela aberta, não sem antes de Brad puxá-lo para se agachar. Irina tropeçou em Dimitri, caiu pela janela, e foi sugada pelo buraco negro lá embaixo.

Então Brad se aproximou de Dimitri, olhou nos seus olhos negros e russos, fez um carinho assim delicado no seu cabelo escuro e sedoso, e antes que chegasse mais perto, Dimitri recuou: “dessa fruta eu não mordo!”.

Mas mordeu.  Afinal, o que um golinho de vodca não faz.